segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CONTRAPONTO

Desde que foi criado, a escrita de música organizada contrapontualmente tem estado sujeita a regras, algumas vezes bastante restritivas. Por definição, acordes ocorrem quando três ou mais notas soam simultaneamente (visto que duas notas simultâneas são consideradas um intervalo). Entretanto, os aspectos verticais, harmônicos, de acordes, são considerados secundários e quase incidentais quando o contraponto é o principal elemento criador de textura. O foco do contraponto é interação melódica e não os efeitos harmônicos gerados quando linhas melódicas soam concomitantemente.

Considerando-se o modo como a terminologia evoluiu ao longo da história da música, as obras criadas a partir do período barroco são descritas como contrapontísticas, enquanto que a música anterior ao barroco é dita polifônica..
Homofonia, por contraste com polifonia, é a música na qual os acordes ou intervalos verticais trabalham com uma melodia simples sem dar muita consideração ao caráter melódico dos elementos de acompanhamento acrescentados ou de suas interações melódicas com a melodia que acompanham. Sob este ponto de vista, a música popular escrita atualmente é predominantemente homofônica, principalmente pela avaliação dos acordes e da harmonia, mas, embora as tendências gerais, numa e noutra direção, possam ser ligeiramente predominantes, descrever uma peça musical como polifônica ou homofônica, em termos absolutos, é uma questão de intensidade com que a obra se adequa a uma ou outra definição.
A forma ou o gênero composicional conhecida como fuga é, talvez, a de convenção contrapontística mais complexa. Outros exemplos incluem o redondo ( uma composição musical em que duas ou mais vozes cantam simultaneamente a mesma melodia, sem parar, mas com cada voz começando em momentos diferentes. Estilo comum nas tradições folclóricas e o cânone.
Na composição musical, as técnicas do contraponto são importantes porque permitem que os compositores criem "ironias" musicais que servem, não apenas para deixar os ouvintes curiosos e desejosos de escutar mais atentamente aos diversos matizes das complexidades encontradas na textura de uma composição polifônica, mas também em induzi-los a prestar mais atenção à obra indo além desses símbolos e interações do diálogo musical. E também produzem uma série de reções diferentes, uma vez que sabemos que as ondas sonoras são capazes de produzir sensações e sentimentos no corpo através da diferença de frequencia de sons que o ouvido humano percebe. Sendo assim, como em épocas remotas algumas modalidades de som foram proibidas por serem consideradas hipnóticas e levar as pessoas a sairem de si, a exploração desta nova gama de som, um vez que a teoria musical da harmonia e da melodia já haviam esgotado novidades, faz com que a sonorização desse tipo de música projete novos significados e idéias (não chega a hipnotizar, como acreditavam os governantes, mas é capaz de produzir novidades ao corpo) fazendo com que o ser humano, curioso como é, se interesse. Escutado sozinho, um fragmento melódico cria uma determinada impressão; mas se esse mesmo fragmento é escutado simultaneamente com outras idéias melódicas ou combinado, de maneira inesperada, consigo mesmo, como num cânone ou numa fuga, são reveladas maiores profundidades do significado afetivo. Através do desenvolvimento de uma idéia musical, os diversos fragmentos acabam criando algo maior do que a simples soma das partes, algo conceitualmente mais profundo do que uma melodia simplesmente agradável.
"É difícil escrever uma bela melodia. Mais difícil ainda é escrever diversas belas melodias que, entoadas simultaneamente, soem como um todo polifônico ainda mais belo. As estruturas internas criadas para cada uma das vozes, precisam contribuir, separadamente para a estrutura polifônica emergente a qual, por sua vez, precisa reforçar e comentar as estruturas das vozes individuais. A maneira de se alcançar esse objetivo, em detalhes, chama-se … 'contraponto' ".
A separação entre harmonia e contraponto não é absoluta. É impossível escrever linhas simultâneas sem produzir harmonia e é impossível escrever harmonia sem atividade linear. O compositor que preferir ignorar um ponto em detrimento do outro ainda tem que encarar o fato de que o ouvinte não pode desligar seu escutar linearmente e as harmonias quando deseja, arriscando-se tal compositor a criar inintencionalmente distrações entediantes. O contraponto de Johann Sebastian Bach, freqüentemente considerado a síntese mais profunda, jamais alcançada, das duas dimensões, é extremamente rica harmonicamente, com a tonalidade sempre claramente direcionada, ao mesmo tempo em que suas linhas se mantêm fascinantes.

Cantus Firmus (CF): É uma linha melódica composta de antemão, geralmente escrita com uma única figura rítmica, com uma extensão de oito a doze notas, que serve de base para o contraponto. O contraponto, que é a técnica de condução isolada de várias linhas melódicas soando ao mesmo tempo, pode assumir 5 formas distintas, divididas em cinco espécies diferentes.
Contraponto de 1a. espécie: (nota contra nota) - Para cada nota do CF compõe-se uma nota em contraponto. Não podem haver dissonâncias.
No contraponto de primeira espécie, é acrescentada uma linha melódica (também chamada de parte ou voz acima ou abaixo do cantus firmus, cada nota da parte acrescentada deve soar junto com uma nota do cantus firmus. Em todas as partes as notas soam e se movem simultaneamente, umas em relação às outras. A espécie é dita expandida se qualquer uma das notas acrescentadas forem fragmentadas (simplesmente repetidas).

• A seguir, listam-se algumas regras adicionais. Algumas são vagas, mas uma vez que os contrapontistas sempre foram aconselhados a utilizar o bom senso e o bom gosto à frente da adesão cega a regras, são mais alertas do que proibições. Entretanto, outras estão bem próximas da obrigatoriedade e são aceitas pela maior parte das autoridades no assunto.
  1. Comece e termine ou no uníssono, na oitava ou na quinta, a menos que a parte acrescentada esteja abaixo do cantus firmus ou de outra parte, neste caso devem começar e terminar apenas em uníssono ou oitava.
  2. Não utilizar uníssono a não ser no início e no fim.
  3. Evitar quintas ou oitavas paralelas, ocultas ou não, entre quaisquer duas partes: isto é, as linhas melódicas devem se mover no mesmo sentido em direção a uma quinta perfeita ou oitava, a menos que uma parte, geralmente restrito á parte mais alta, se move de uma segunda.
  4. Evitar se mover em quartas paralelas. Na prática, Palestrina e outros se permitiam tais progressões especialemtne se não estivessem envolvidas partes mais baixas.
  5. Evitar se mover durante muito tempo em terças paralelas e sextas.
  6. Tentar manter quaisquer duas partes adjacentes dentro de uma décima a menos que uma linha especialmente agradável possa ser escrita movendo-se para fora desses limites.
  7. Evitar que quaisquer duas partes se movam na mesma direcção em terças ou quartas.
  8. Tentar agregar o maior número possível de movimentos contrários.
  9. Evitar intervalos dissonantes entre quaisquer duas partes: segunda maior ou menor; sétima maior ou menor; qualquer intervalo aumentado ou diminuto; e a quarta perfeita (em muitos contextos)
No exemplo a seguir, em duas partes, o cantus firmus é a parte do baixo. Cada um está no modo Dórico.
cp
  1. Contraponto de 2a. espécie: (2 notas contra 1) - Podem haver dissonâncias somente como notas de passagem.
No contraponto de segunda espécie, duas notas em cada uma das partes acrescentadas devem corresponder a cada semibreve na parte de base. A espécie é dita expandida se uma dessas duas notas menores diferir da outra pela duração.
Além das regras para o contraponto de primeira espécie, as seguintes considerações aplicam-se, à segunda espécie:
  1. É permitido começar numa anacruse, mantendo uma semi-pausa na voz acrescentada.
  2. O tempo forte tem que ter consonância (perfeita ou imperfeita). O tempo fraco pode ter dissonância, mas somente ao mudar de tonalidade, isto é, deve ser buscado e mantido através de um intervalo de segunda na mesma direção.
  3. Evitar o uníssono no início e no fim do exemplo, a menos que possa ocorrer num tempo fraco do compasso.
  4. Ser cauteloso no uso de sucessivas quintas perfeitas ou oitavas acentuadas. Eles não devem ser utilizados como parte de um padrão seqüencial.
  1. cp
  2. Contraponto de 3a. espécie: (4 notas contra 1) - Podem haver dissonâncias apenas como notas de passagem e bordaduras.
No contraponto de terceira espécie, quatro (ou três etc.) notas se movem junto com cada nota mais longa da parte fornecida como base. Como no caso do contraponto de segunda espécie, ele é dito expandido se notas de valores menores variam entre si quanto à duração.
Contraponto de 4a. espécie: (Contraponto sincopado) - Este contraponto é escrito sempre em contratempo com relação ao cantus firmus (CF). A duração das notas de ambas as melodias é sempre a mesma, porém sempre em defasagem. A técnica mais importante que se estuda no contraponto de 4a. espécie é o efeito de suspensão, onde a dissonância deve obedecer à um tratamento em 3 fases:
No contraponto de quarta espécie, algumas notas na parte acrescentada são sustentadas ou suspensas enquanto as notas da parte fornecida como base se movem em relação a elas, criando, com freqüência, uma dissonância no tempo (do compasso), seguida pela nota suspensa que logo muda para criar uma consonância com a nota na parte fornecida na medida em que ela continua a soar. Como no caso anterior, o contraponto de quarta espécie é dito expandido quando as notas da parte acrescentada variam entre si pela duração. A técnica necessita de cadeia de notas sustentadas ao longo dos limites determinados pelo tempo .
síncopecp
    1. Preparação: A dissonância é preparada como consonância no tempo anterior.
    2. Apresentação: A dissonância é apresentada.
    3. Resolução: A dissonância é resolvida com grau conjunto descendente em uma consonância imperfeita. (3a. ou 6a.). O modelo mais típico de resolução é a seguinte:
    É comum uma "cadeia de suspensões", onde um dos três modelos acima é realizado em seqüência.
    cp
  1. Contraponto de 5a. espécie: (Contraponto Floreado) - Nesta espécie misturam-se os procedimentos típicos de cada uma das espécies anteriores. Devem-se respeitar as diretrizes de cada espécie que está sendo utilizada.
No contraponto de quinta espécie, algumas vezes chamado de contraponto floreado, as outras quatro espécies de contraponto são combinadas nas partes acrescentadas. No exemplo a seguir, o primeiro e segundo compassos são de segunda espécie, o terceiro compassso é de terceira espécie e o quarto e quinto compassos são de terceira e quarta espécies adornadas.
cp

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